Mau Humor da Bolsa
Júlio Miragaya
Conselheiro do Conselho Federal de Economia
A cada queda da presidente nas pesquisas eleitorais, por mínima que seja, faz subir a Bolsa de Valores de São Paulo. E, se as intenções de voto sobem, a Bolsa cai. As pesquisas eleitorais revelam que as intenções de voto nos principais candidatos presidenciais estão assumindo uma nítida segmentação social: os eleitores das faixas de menor rendimento tendem, em sua grande maioria, para a candidata governista. Já, os das faixas de maior rendimento, para os candidatos da oposição.
Expressão desta situação foram as vaias à presidente dadas por centenas de latifundiários em Uberaba, na 79ª Expozebu, e em alguns jogos da seleção, por um público essencialmente da chamada classe média alta. O que tudo isso significa? Que os empresários e a classe média alta não querem a continuidade do atual governo.
Sabemos que os empresários e os segmentos mais ricos do Brasil estão insatisfeitos, pois sempre tiveram governos que priorizaram seus interesses, em detrimento das necessidades do povo. Mas a classe média não tem do que reclamar: entre 2005 e 2012, por exemplo, a venda de automóveis novos no Brasil cresceu 125% – de 1,62 milhão para 3,64 milhões, ao passo que no México, o “queridinho do mercado”, caiu 10%, de 1,13 para 1,01 milhão.
A melhoria da qualidade de vida do brasileiro é inegável e deveria interessar à classe patronal. Mas esta só pensa em maximizar seus lucros e não se conforma com os sucessivos aumentos do salário mínimo. Para ela, pouco importa que os governos Lula/Dilma tenham retirado 36 milhões de brasileiros da pobreza e criado 18 milhões de empregos formais; que o percentual de brasileiros que habitam moradias precárias tenha caído de 16% para 7% ou que entre 2003 e 2014 tenham sido financiadas 3,57 milhões de moradias (298 mil/ano), ante 295 mil moradias (37 mil/ano) entre 1995 e 2002. Lamentável que a classe empresarial brasileira seja tão insensível ao bem-estar de nosso povo.
Jornal de Brasília, 24/07/2014