Há um debate na sociedade, no governo e no mundo acadêmico sobre a formação de uma nova classe social denominada “nova classe média” ou “nova classe C”. Polêmica à parte, sobre a sua natureza (classe social ou estrato de renda), o fato é que esse grupo social vem crescendo nos últimos anos, engrossando a legião de consumidores no país.
Em geral, as chamadas camadas médias da população são constituídas por profissionais liberais, servidores públicos, assalariados do mercado formal, microempresários, pequenos produtores rurais e categorias profissionais análogas. Esta categorização leva em consideração não só a renda, mas a grau de instrução, a cultura, os hábitos de consumo, o local de moradia e, sobretudo, os valores.
Nos últimos dez anos, com o aumento real do salário mínimo, a adoção de uma política social consistente de transferência de renda e a ampliação dos benefícios e serviços socioassistenciais, 30 milhões de pessoas saíram da pobreza, ampliando o contingente populacional da chamada classe C no Brasil. No DF, não foi diferente.
De 2001 a 2011, no Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/PNAD, IBGE, a classe C (pessoas com renda per capita de R$ 274,00 e R$ 961,00, em valores de 2011), cresceu de 39,6% para 50,4% da população. No Distrito Federal, esse crescimento foi de 35,6% para 45,8% da população. Em dez anos, em termos absolutos, saltou de aproximadamente 765 mil pessoas para 1,2 milhão de pessoas no DF.
Entretanto, concordando com William Nozaki, sociólogo e economista, professor da Universidade Mackenzie, esse movimento tem menos a ver com a tradicional classe média e mais com a formação de uma nova classe trabalhadora, diferente daquela que se formou nos anos 1970, a partir de sua organização, sindicalização e inserção na política partidária.
Essa nova classe trabalhadora, com o crescimento de seu nível de renda, começa a se aproximar, em alguns aspectos, aos hábitos de consumo da chamada classe média. Diferentemente desta, no entanto, não dispensa o acesso ao sistema público de serviços, em especial de educação e saúde. Ao contrário, precisa dele.
Essa nova classe C não está fadada ao propalado conservadorismo da classe média e nem automaticamente vocacionada ao distanciamento da vida político-partidária. Ao experimentar maior nível de renda, essa nova classe possui novas expectativas de progresso social e melhoria da qualidade de vida. Portanto, torna-se mais exigente com a garantia de direitos e o acesso e qualidade dos serviços públicos. Apesar da sua importância, a focalização de programas sociais na pobreza e, principalmente, na extrema pobreza precisa continuar.
Osvaldo Russo, estatístico, é diretor de Estudos e Políticas Sociais da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (ipe). Foi secretário nacional de Assistência Social e divulgou o presente artigo no XVII Encontro Nacional da ANIPES – Fortaleza (CE), 5 a 7 de dezembro de 2012.